Em entrevista, o estilista Jum Nakao, brasileiro e neto de japoneses, com ateliê em São Paulo, relata um pouco mais sobre a concepção do Reality Project e da coleção “A Hora do Brasil”.
ADM – Como surgiu a ideia conceitual do Reality Project, que viria a culminar no desenvolvimento da coleção “A Hora do Brasil”?
JN – A ideia surgiu da percepção da importância de conscientizar o público sobre o valor do processo de desenvolvimento de uma coleção. Despertar o olhar para valores como educação, respeito, cultura, saberes e matérias-primas regionais. Criar autoestima, confiança e capacidade de materializar um futuro melhor.
ADM – Qual foi a importância da parceria com o Senac para a realização de um empreendimento com estas proporções?
Foi fundamental. Já tenho uma relação próxima com o Senac há, mais ou menos, oito anos, por conta de algumas disciplinas que eu ministrei na entidade, e eu acredito muito na concepção de educação com uma função transformadora. Então, quando eu apresentei para eles o projeto que diz respeito a educar mostrando como se faz uma coleção de moda, compartilhar de forma irrestrita o conhecimento, o Senac prontamente apostou, pois era um conceito que vinha ao encontro do ensino que eles oferecem.
ADM – Como foi para você participar deste projeto no que diz respeito a realizar uma coleção de forma coletiva, com muitas outras pessoas de diferentes concepções, vivências e atributos no universo da moda?
JN – A plataforma coletiva, colaborativa, é fundamental por estimular cruzamentos de saberes e de matérias peculiares a cada ofício, possibilitando pensamentos e resultados transversais que ampliam a abrangência do que entendemos como universo da moda. E todos ganham quando fronteiras são expandidas através destas trocas generosas.
ADM – Você poderia falar um pouco sobre o conceito da coleção “A Hora do Brasil” e o diálogo que é feito, em todo o Reality Project, com os elementos da nossa cultura nordestina e brasileira?
JN – “A Hora do Brasil” é agora. Precisamos valorizar nossos saberes e matérias. Estabelecer pontes de desejo entre o Brasil e o mundo.
Abaixo, trecho do meu manifesto:
“Uma mudança de paradigmas onde o simples e não o simplório se torne ultrasofisticado, em que o luxo do consumo queira saciar sua sede na nossa essência. Não se trata do conceito high and low, onde contribuiremos com o low e onde o low é concessão. Não se trata de se inserir pelo viés politicamente correto ou sustentável. Muito pelo contrário, trata-se de uma revelação, redescoberta no caminho inverso. Afinal, nossos descobridores, os portugueses, quando aqui chegaram ficaram em dúvida se não haviam descoberto o céu! Agora o paraíso moderno é outro, diz respeito a consumo e desejo. Estamos alinhavando este caminho. Precisamos de referências que apontem esta possibilidade. O maior patrimônio é exportar estilo. Para vender moda é preciso de estilo. Viva o Brazilian Northeastern way of life!”.
ADM – Qual você acredita ter sido o legado de um projeto ousado e pioneiro para a moda da nossa região como o Reality Project?
JN – O maior legado do Reality Project é gerar uma imagem de autoestima e muito orgulho. Somente através da autodescoberta nos revelaremos dignamente ao mundo.
Fonte: http://anuariodamoda.diariodonordeste.globo.com/jum-nakao/